quarta-feira, 4 de agosto de 2021

LINHA ONZE

Mas por costume que por precisão, nóis finadas almas,  amuntava no bonde, das veiz pra bisbilhotar a vida alheia, assombrar um desafeto, fazê algum milagrinho, visitá  parente, ou só bizoiá os vivente,  o causo é que a Linha 11 se encarregava dos mortos e dos vivos, a dureza era quando o motorneiro dava de ser cagão, e vortava patraiz antes de findar no Cemitério da Saudade, tinha ainda uns mais cudiburro, que quando se apercebia que tinha morto nos bancos, se tacava fora do bonde, largava vivo e morto tudo  lá, sem saber quem era quem...
De toda forma, nessa viagem ia nóis 5 finados, autorizado no passeio.  
Eu, cuma vontade doida de tomar café na cidade, com ideia de se me enfiar em quarqué corpo de home ou de muié que ostentasse xícara em punho. 
A Mãe Preta da Luz Divina, ia em missão de cura e bença pra trabaiá com os outros preto, diz que saltava na parada da Abolição.
O Frei Alegário, dizia que tava ino na missa, mas nóis tudo sabia que não. 
Tava tamém a linda Maria Jandira, noiva mais triste do mundo, de quarque mundo,  ia descer na Moraes Sales e se achegar na Visconde do Rio Branco, num disse dos motivamento e nóis num perguntemo. 
O Pedro Jão, êita difunto azedo e falador, diz que ia até o Correio, encontrar um tar de Capa-Preta, amigo seu, ou sei lá eu,  pra depois seguirem pras banda do Araguaia, pumorde dá um prestatenção no  Jão Pedro, um beudo, mano geminado do Pedro Jão...  que um morreu e outro não. 
Era dos combinamento de os morto ir tudo quietinho, pra num perder a carona, quando uma voz de catacumba num se guenta.
Ô fudum de queimado,  tá pegano fogo no bonde é?
Cala-te-boca Pedro Jão, que  mando vosmecê devorta pro o tumbalo sem parada na Capela.
Deixe estar Mãe Preta não vale a pena se abalar. O  desarmado não se intimidou.
Morri de nó nas tripa, num tenho curpa eu,  pior memo é ela, moça bonita, que se tacou fogo no corpo
Ninguém sabe,  ninguém viu,  menos ainda eu, menina nova,  cega de amor.
Rapariga que virou noiva, só nesses cafundó.
Alto lá azedume da roça, malacabado, bafo de bode, fiudumajaca, já me ia subino uma gana de avuá no pescoço do marcriado. 
Nessas artura o Frei apartou, Pedro, saibas tu que o amor pode fazer milagres.
Qual milagre nada, do nó nas tripa ninguém me sarvou... 
Vosmecê amunto na garupa Dele e veio pro lado de cá, sua dor acabou, agora zifiu, num pode recrama.
Certa a Mae, mió nó na tripa que chamuscamento.  
Foi então que se alevantou braba, frutuando uns 5 parmo do chão a Maria Jandira, seus cabelo ventava sem o vento ventar, o vestido branco se alumio em labareda, e ela falou sem carecer de mexer os beiço.
Digo ao  Sr Pedro Jão,  que me fazes pena,  morreste à flor da idade, sem conhecer amor nem mulher, agora estais aí penada alma recalcada, do jeito que vais,  não encontrarás na morte o que não encontraste em vida, nem o céu nem o inferno reclamam o senhor. Já eu vivi, amei, queimei e morri. 
Foi que um solavando sacudiu os morto,  os vivo e os marromenos,  uns tanto dos vivente, mais o motorneiro largaro-di-mão do bonde, picaro a mula correno e gritano do avistamento de alva noiva em forma de assombração, os que num viro, pra num passar por besta dissero que viro tamém, os adormecido,  acordados no susto, saíro desabalado, só pra não ficar patraiz, e nóis que é morto, fiquemo a pé.  
 
Making -Off  

 Não é porque eu vi que existe, e não é porque eu não vi que não existe


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