sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Duque


Diz que o Vô do pai escutou um choramingo perto da porteira, na certeza  que era reinação de Saci, pumirdi de ser lua cheia, foi de garrucha em punho fazê os conferimento, e vortou com um fiote de cruz-credo. 

Acomodou o bicho feio perto do fogão, que as brasa de meia vida havia de aquecer o esquisito. 

De manhã teve de acudir a Malhada numa mujidera doida, deu o que ver pra fazer o cachorrinho dente de serrote larga das teta da coitadinha. 
  
Então cumpadi, o Duque foi pegano esse formato meio cachorro, meio lobo, meio cruz-credo. 

O medonho se virou em guardião dessas terrinha, da porteira pra cá, só se ele deixar, bicho peçonhento passa varado daqui, marintensionado não ganha ousadia, até as lumbriga sumiru das barriga dos moleque.

O bichão dorme alí ó,  no pé do fogão, ele inda pula feliz se nóis pita fumo de corda quenemque o Vô pitava.  

Em noite de lua cheia os pelo do Duque fica tudin rupiado e o zóio dele brilha vermeio no terrero, quem viu num vorta pra conta não. 


Making-off 
O causo original é daqueles de beira de pista, ouvi na  Parada do Queijo em Joanópolis - Terra de Lobisomem por excelência.  A Dona Marisa e a Bia noticiaram que um certo cumpadi, em noite de lua cheia, correu da porteira até a cozinha com o cachorrão Duque no seu encalço, porém ao chegar, o cabra deu com cachorro cochilando no pé do fogão e concluiu que escapara de um lobisomem carrancudo, fez sinal de nome do pai três vezes, amém. 

*Não é porque eu vi que existe e não é porque eu não vi que não existe. 


segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

SERMÃO DE MÃE PRETA

Cheiro doce e sangue amargo,  mais uma  perna preta o Engenho tragou,  inhame, babosa, cravo e canela, o moleque guentou firme a dor da cura, despois, tadinho, amuou. 

A mãe costurou um calção vermeio sangue, e jogou-lhe no peito,  num criei minino-homi pra ser  cuitadinho. A perna que ficou lhe basta, Deus dá duas, justo para o causo de se perder uma. 

Vai zarelhar no pasto, trança as crina dos cavalo, faz  queimá as comida na panela da sinhá. Vá moleque, levante já, tome aqui o pito do vô  pro cê pitá,  vá ter com a mata, treina entrar e sair,  aprende das ervas de bem e de mal,  assusta os besta que se perde nos mato, dá uns trote bem dado  nos marintensionado embrenhado nas picadas, imita os passarinho, os rugido de onça, o sapo rachado.

 Gira livre feito um vento alevantando a poeira do terreiro, pro povo sabe que ocê é o mestre-minino da danadice e da zombação.

Trecho da obra Monteiro Lobato 
Fala logo que perdeu a perna na capoeira, pra  ninguém mangar de tu. Sua senda sempre foi atazaná,  se safa das peneira e das garrafas,  depois de véio engana até a morte, se vira em orelha de pau, aquieta grudadin num tronco, que a mata há de lhe acolher. 

Agora vai danado, vai traquiná. 

Making-off 

O Saci Pererê, só é o Saci, porque a mãe dele é a mãe dele. 

Não é porque eu vi que existe e não é porque eu não vi que não existe

o Seo Lobato, era eugenista de carteirinha, e racista de plantão, ponto muito negativo para ele por isso.

Ilustração edição de luxo 1964- Monteiro Lobato