quinta-feira, 2 de julho de 2020

Causo de Milho

Rescendeu na cozinha o cheiro do milho cozido e revirou-me as gavetas da memória.

Foi uma viagem de carro com meu avô e avó, a tia Val , a Léa e devia ter mais alguém.

Era  depois do almoço, no sítio, todas as tias irmãs da Vó sabiam meu nome e de quem eu era filha, a mesma cara, a mesma teimosia ... eu é que não sabia a cara e a teimosia delas.


Vô porque elas estão ralando milho? Pamonha menina, para fazer pamonha. O que a historiadora não praticante que vos escreve classificaria finamente como Ritual rural feminino do milho, estava mais para o forfé do milho.

Era milho pela cozinha toda, lembro dos óculos das tias respingados de milho, cabelos enmilharados , avental vertendo milho, elas riam umas das outras, enquanto evocavam lorotas e as desgraceiras dos ralamentos do milho no ano passado, tudo cheirava a milho cozido e ninguém me deixou ralar milho nenhum.

Eu que era pequena e não gostava de café, perdi a chance de acompanhar a melhor pamonha de todos os tempos com o café mais maravilhoso do velho Oeste paulista.

Cavuquei e ainda resgatei uns fiapos de lembrança:
O hotel, meio pensão, acho que perguntei de quem era aquela casa e todo mundo riu.
A estação de trem antiga talvez em Arcadas onde tiramos uma foto.
A Léia sacolejando a ponte pênsil que transpunha o rio Pardo e da placa que alertava para não fazê-lo

*Perguntar para a tia Val mais coisas da viagem seria uma trapaça vil e imperdoável, maismiódibão é deixar cheiro do milho cozido preencher as lacunas.

Mesmo assim eu perguntei, a tia debochada  rebateu: Você Nanica, era muito nova para se lembrar e eu  talvez  meio velha para tanto.