sábado, 7 de agosto de 2021

Jean-Francês-Boticário

Diz que o do cabelo loiro carapinha foi despachado pra Uropa  na missão de estuda esse negócio de cientista, daqueles que mistura as coisa e ferve elas drento dos vidrinho só pra vê se exprode ou muda a cor, mai cuitado, os Doutô botaro o curioso pra corre, quem qui madou o rapaiz achar de cavuca nas crendice do povo e nas alcova das bruxas pumordi de desvendá segredo das erva e dos enfeitiçamento de cura.

Já que vontade de curar o povo num saia do seu peito, ele se amuntou no navio e vorto, desembarcou na Capitar no meio de uma encrenca danada, porcausdique os besta preferia morre ca cara cheidi bixiga que se avacina, ói que bestagê.

Depois da peleja, ele gastou umas temporada fazeno estudamento no Rio, com um tar de Seo Cruz, o  causo é  que o moço cansava logo dos vidrin, sua sina era de especulá com os erveiro, cavuca os segredos das raíz, nóis acha até que os Encantados puxava ele.  

E óia que teve que aprende tudin de novo, pumordi das erva aqui ser diferente das dilá, craro  fique, que as bruxa daqui tamém, mais bonita que as dilá. 

Diz que e o moço rodou nos terreiro da Mãe Preta da Divina Luz, e conheceu dos encantamentos de cravo e canela, adentrou na mata pra ver as cura de fumaça dos Caboclo,  aprendeu os fazimento dos Pajé, dos raizeros, das plantas dos Santos, banhos, chá e dos benzimento.

 Diz que o curador era cor de caramelo, nem preto, nem braquelo,  e justo purisso, ele tinha os caminho aberto no mundo dos vivo e dos morto,  dos branco e dos pretos,  passsejava entre os doutô e os curandeiro, hora abrino conta na banca do Coisa- Boa, hora do Coisa-Ruim.  

O que tinha jeito ele dava um curamento: berne, tosse catarrenta, nó na tripa, cabelo ralo, bafo de cabrito, regra sem dia, verme de barriga, dor de garganta, cu frouxo, febre, calor de moça velha,  possuimento, ferida mandada,  dor de amor, pobrema de pinguelo mole, boca torta, dor de dente, zóio amarelo, fraqueza, mau zolhado, batedera de coração, papada gorda, zóio esbugalhado, coração partido, desamimamento, quebrante, surdeira, queimadeza, furado de revorve,  corte de fação,  e sabe lá o que mais, os que não dava cura, o Capa-Preta carregava na garupa.  

Di caixeiro viajante no sertão velho o andador criou fama de Jean-Francês-Boticário-Curador,  fez reza, encantamento e bateu tambor, deu remédio de Santo e remédio de doutô, sarvou uns mirrado galego vermeio, com canja, rezamento e  manjerição, socorreu boiadero baleado, remendou perna de Saci, e até estrepe de pé de lobisomem o danado tirou. 

Despois de morto, ele se virou em fantasma de plantão nas beirada da Bocaina, purcausadique quando que vivo, o sangue das preta daqui lhe corria nas veia, diz que o pai dele era um francês e ninguém sabe se mãe andou com o home por gosto ou por força, conta o povo que a preta morreu de parto e o estrangero criou o menino na casa grande.  

Antionti de noite eu vortava de bicicreta, juro trêis veiz que senti um vento de luz alumiada soprar no meu cangote, quando  virei  de esgueio,  era ele que ia a galope  no caminho dos tropeiros, falaro despois que foi o causo de o assombração curador socorrer um motoqueiro ressacado, zoiudo e glutão que fazia pouso na Fazenda Boa Vista, diz que o encardido virou o zóio, estribuchou e gumitou, foi quando a  Carminha Rezadera invocou o Jean-Francês,  de manhã o motoqueiro acordou bão, e eu sem ser curpado de nada,  por pouco num caí da bicicreta.  

Making Off

Não é porque eu vi que existe e não é porque  eu não vi que não existe 

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

LINHA ONZE

Mas por costume que por precisão, nóis finadas almas,  amuntava no bonde, das veiz pra bisbilhotar a vida alheia, assombrar um desafeto, fazê algum milagrinho, visitá  parente, ou só bizoiá os vivente,  o causo é que a Linha 11 se encarregava dos mortos e dos vivos, a dureza era quando o motorneiro dava de ser cagão, e vortava patraiz antes de findar no Cemitério da Saudade, tinha ainda uns mais cudiburro, que quando se apercebia que tinha morto nos bancos, se tacava fora do bonde, largava vivo e morto tudo  lá, sem saber quem era quem...
De toda forma, nessa viagem ia nóis 5 finados, autorizado no passeio.  
Eu, cuma vontade doida de tomar café na cidade, com ideia de se me enfiar em quarqué corpo de home ou de muié que ostentasse xícara em punho. 
A Mãe Preta da Luz Divina, ia em missão de cura e bença pra trabaiá com os outros preto, diz que saltava na parada da Abolição.
O Frei Alegário, dizia que tava ino na missa, mas nóis tudo sabia que não. 
Tava tamém a linda Maria Jandira, noiva mais triste do mundo, de quarque mundo,  ia descer na Moraes Sales e se achegar na Visconde do Rio Branco, num disse dos motivamento e nóis num perguntemo. 
O Pedro Jão, êita difunto azedo e falador, diz que ia até o Correio, encontrar um tar de Capa-Preta, amigo seu, ou sei lá eu,  pra depois seguirem pras banda do Araguaia, pumorde dá um prestatenção no  Jão Pedro, um beudo, mano geminado do Pedro Jão...  que um morreu e outro não. 
Era dos combinamento de os morto ir tudo quietinho, pra num perder a carona, quando uma voz de catacumba num se guenta.
Ô fudum de queimado,  tá pegano fogo no bonde é?
Cala-te-boca Pedro Jão, que  mando vosmecê devorta pro o tumbalo sem parada na Capela.
Deixe estar Mãe Preta não vale a pena se abalar. O  desarmado não se intimidou.
Morri de nó nas tripa, num tenho curpa eu,  pior memo é ela, moça bonita, que se tacou fogo no corpo
Ninguém sabe,  ninguém viu,  menos ainda eu, menina nova,  cega de amor.
Rapariga que virou noiva, só nesses cafundó.
Alto lá azedume da roça, malacabado, bafo de bode, fiudumajaca, já me ia subino uma gana de avuá no pescoço do marcriado. 
Nessas artura o Frei apartou, Pedro, saibas tu que o amor pode fazer milagres.
Qual milagre nada, do nó nas tripa ninguém me sarvou... 
Vosmecê amunto na garupa Dele e veio pro lado de cá, sua dor acabou, agora zifiu, num pode recrama.
Certa a Mae, mió nó na tripa que chamuscamento.  
Foi então que se alevantou braba, frutuando uns 5 parmo do chão a Maria Jandira, seus cabelo ventava sem o vento ventar, o vestido branco se alumio em labareda, e ela falou sem carecer de mexer os beiço.
Digo ao  Sr Pedro Jão,  que me fazes pena,  morreste à flor da idade, sem conhecer amor nem mulher, agora estais aí penada alma recalcada, do jeito que vais,  não encontrarás na morte o que não encontraste em vida, nem o céu nem o inferno reclamam o senhor. Já eu vivi, amei, queimei e morri. 
Foi que um solavando sacudiu os morto,  os vivo e os marromenos,  uns tanto dos vivente, mais o motorneiro largaro-di-mão do bonde, picaro a mula correno e gritano do avistamento de alva noiva em forma de assombração, os que num viro, pra num passar por besta dissero que viro tamém, os adormecido,  acordados no susto, saíro desabalado, só pra não ficar patraiz, e nóis que é morto, fiquemo a pé.  
 
Making -Off  

 Não é porque eu vi que existe, e não é porque eu não vi que não existe