sexta-feira, 7 de agosto de 2015

FUMACENTA


Diz que em noite sem lua, tem luz de mansinho alumiando no meio do cafezal, desliza amaldiçoada procissão de gente sem cara, e velas à mão, rezando Pai Nosso do avesso,  condenadas à escolta de caixão que avôa 7 parmos do chão sem cair nem bambear.

Hordas de colonos a largar mão da lida por conta da maldição.

Personalidade rústica e cara vincada, sendo capataz, briguento e impetuoso, fazia ronda no cafezal montado em belo alazão Malhado... só que não... vou “amuntar” o peão em bela moto inglesinha que sinhozinho, menino coxinha, raptou de Londres,  caiu, ralou-se, desgostou e pronto. 
  
Na duvidança da crendice do povo, o valentão guardou tocaia. 

À visão da tal de luz, acelerou em trovoada de óleo queimado e fumaça branca, sacou a garrucha: Se for coisa Santa, que Deus que me perdoe, se for do Diabo, que Deus me proteja, porque vou passar é fogo....

Foi tiro e debanda geral, poeirão e assombração catando cavaco pelas 3 fazendas da redondeza, ancorado em terra vermelha ficou o caixão que avoava, desconfiança ... no bico da bota abriu a tampa, jaz sagrados grãos de café tipo exportação.  

Making-off

Diz que por “indulgência” da sinhazinha, ele conseguiu a posse da Fumacenta, e pegou dengo, na moto, não na sinhá.

Reza a lenda que o capataz morreu muito velho e turrão, na ocasião em que rebentou a inglesinha na ribanceira.
Não se sabe se caiu porque morreu ou morreu porque caiu, diz que em noite fechada, há quem veja fumaça branca nos cafundós da fazenda virada em hotel chique.

terça-feira, 23 de junho de 2015

TÁ (OU) VINDO?

http://www.yoshihitotomobe.com/yoshihito
Carburadas na poerinha de chão batido, ilusão de acertar o
caminho, sem lua,  nem estrela, só neblina adentro.

Depois de duvidar, fazer o nome do pai e bifurcar à esquerda e à
direita , barulho de carroça desgovernada retumbante.
Tá (ou)vindo?

Manobra rápida das traquitanas para lateral beira-porteira, estrondo e silêncio na encruzilhada . Gasolina gelada nas veias.
Sem carroça, cavalo ou cavaleiro, para socorrer, meia volta,
freio-motor à toda prova e fog no retrovisor.

Eu hein!

Making-off
História da Roça,  narração original da Tia Palmira do MS, só
encardi, taquei um pouco de gasolina.

sexta-feira, 6 de março de 2015

KILLometros

Sem apego aos faixa-branca tinindo,  sol de esturricar os miolos , mormaço defumando até o DNA
Estrada travada, café, água, Rio Paraná , pradarias , mais pista lascada, mais café, mais água, mais pradarias... 
Paisagem de primeiro capítulo de novela, entardecer vermeião e surra da estrada.  
Breu e acidentão alheio na chegada.
Owwwww !!! Para aqui !!! Douradas sirigaitas oferecidas, a cobiçarem meu cangaceiro. 
Para aqui vosso cu ... bando demalacabadas , projeto falido de garupeira, voodu das pradarias... desinfeta piranha , tira o zóio maria garupa, mangalô três vezes... cheguei. 


Making-Off

Seduzida pela idéia de vagar nas pradarias do Wywoming  
feito um siox desgovernado, topei encarar os mil e pouquinhos KILLometros até Dourados-MS. os últimos trechos, me quebraram. 
Só cansa demais, o que é bom demais. 
Contos retroativos - Novembro de 2014 

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

SEXTA 13

Sexta 13 , o dia está de asfalto fumegante 
Amarrada na burocracia, feito graxa na corrente,
azeitando um sistema que se entende não concorda , e se concorda não entende.
Tédio de pneu furado,  motor afogado, boia encantada, vai na boca gosto de parafuso chupado.                                                                     
Melhor o batidão carburado do Evo derretendo as pernas e defumando as botas, que a monotonia dessa merda de ventilador a me provocar.

David Mann 

David 
Making-off
Se eu fosse marxista no lugar de 
"feito graxa na corrente"  seria "massa de manobra"
no lugar de  "azeitando o sistema"   seria "massa de manobra" ... 
no lugar de se "entende não concorda" seria ....  



quinta-feira, 30 de outubro de 2014

NUNCA PODE

Pode chegar, dolorido, sujo, moído, ferrado, feliz.
Pode ter cavalos-marinhos nas botas encharcadas.
Pode o capacete pesar e precisar WD nos joelhos.
Pode a traquitana ficar suja feito moto de trilha.
Pode viajar sob a lua cheia, ou no calor vulcânico do meio dia. 
Pode tomar uma sova da chuva e do frio.    
Pode ser pista seca,  molhada ou desaforada. 
Pode pegar a estrada dos sonhos ou fazer a viagem fantasma. 
Pode ser trem de um, de poucos, de muitos
Pode fazer ou desfazer amizade
Pode ficar com fome, e acelerar para espantar o sono.
Pode curar porre e dor de cotovelo 
Pode tomar café de beira de estrada
Pode ir onde gosta ou onde nunca foi 
Pode quebrar e acabar a gasolina 
Pode demorar muito, pode até não chegar 
O que nunca pode é parar de correr gasolina nas veias 

Making-off 

Não tem e pronto. 



quarta-feira, 1 de outubro de 2014

SERPENTE

Ousadia acostamento abaixo no caso dele existir.
À luz da lua, num trem de dois,  meu Capitão de Estrada a riscar o trajeto. 
Buracos, pedregulho e curvas insondáveis. 
A sorte favorece os corajosos, o escuro socorre os covardes. 
Na espreita relâmpagos e tempestade. 
Posto de gasolina fechado, restou planar nas decidas do Rastro da Serpente,
Madrugada alta, sweet Hotel Apiaí. 

Making-Off 

2013 -Viagem de fim de ano 
Nem se sair chantili da teta da vaca volto lá à noite. 
Contos retroativos: Antes tarde que mais tarde. 


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O Veterano

A presença forte causou impacto inexplicável.
Atordoada pela visão, não sabia se atendia, ou pedia para tirar uma foto, embasbaquei total.
Do outro lado do vidro estava o Veterano.
Grisalho impecável em sua indrumentária militar completa da década de 30, botas e capacete.
Calmamente ele explicou a que veio, entregou alguns papéis, agradeceu com um sorriso, tomou café e se foi.  
No atropelo de historiadora falida saí no seu encalço, mas sem meu crachá, não venci as catracas.
Quando ganhei as escadas, a visão histórica já não estava mais.
Hoje vi a honra e a história em carne, ossos, e farda.

Making-off
E pirem, tive o privilégio de servir um café e ganhar um aperto de mão do Veterano da Revolução Constitucionalista de 1932  que esteve no meu balcão.

A foto inesquecível.... ficou só na mente.